sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Segue um link muito interessante: um jogo que testa seus conhecimentos com relação às principais obras de William Shakespeare.

http://www.folger.edu/education/sfk_kids/

Teste seus conhecimentos, e aprenda brincando!

FIÓDOR DOSTOIÉVSKI: Análise - Polzunkóv

      Como o primeiro trabalho do blog, faremos uma análise detalhada do conto "Polzunkóv". Este conto foi escrito no século XIX, pelo primeiro escritor que analisaremos: Fiódor Dostoiévski, um dos maiores romancistas da literatura russa.


Narrador: O conto é narrado em terceira pessoa. É um narrador observador e personagem, pois ele não apenas constrói uma narrativa imparcial e ausenta-se do conto, mas faz parte daquele texto, de modo que apesar de não possuir nome ou identidade (intencionalidade que enfatiza sua presença neutra), participa da cena observando o personagem principal e transpassando suas conclusões ao leitor, como pode ser observado logo no início do conto: “Pus-me a olhar aquele homem com mais atenção. Havia em seu aspecto alguma coisa de especial, que, involuntariamente, e por mais distraída que a gente estivesse, fazia fitá-lo atentamente para logo em seguida ser acometida de um irresistível impulso de riso.” Descrições sobre o personagem principal discorrem, sendo transmitidas através desse personagem narrador, e mesmo quando Polzunkóv torna-se o narrador de sua própria história, o fundo do conto permanece com interrupções em terceira pessoa. Segue o exemplo: “- Bom – Continuou Polzunkóv, logo que o auditório se acalmou.” Deste modo, conclui-se que o narrador é um personagem secundário que apresenta e acompanha a história do personagem principal.

Personagens: Os personagens resumem-se ao personagem principal (Polzunkóv), o narrador (observador), Fedosséi Nikoláiitch (vilão), e os personagens secundários.
      Polzunkóv e Nikoláiitch são personagens caricaturais, ou seja, apresentam ênfase em determinada característica. Polzunkóv, apesar de poder também ser considerado levemente esférico devido à sua oscilação de atitudes e decisões, é predominantemente caricatural, pois sua personalidade foca sua bondade que, após ter sido abusada, foi transformada em rancor. Ao passo que Nikoláiitch, sendo o grande causador da opressão de sentimentos de Polzunkóv, resume sua personalidade em ardilosa e embusteira.
     O narrador é antagonista, ele contesta o depoimento de Polzunkóv em forma de narrativa, concluindo suas observações com indagações sobre a personalidade do personagem principal (sempre de forma positiva), como observado no trecho “Calou-se de repente, e ficou mirando a todos com uma singular expressão. Quem sabe – quem poderia dizê-lo? – quem sabe pensava naquele instante que ele era muito mais honrado e decente do que todos aqueles importantes cavalheiros que constituíam seu auditório...”. Sua apresentação aos personagens é implícita e indireta, ele revela as características por meio de ações e não descrições, e os personagens secundários, tanto os que ele lida diretamente (público de Polzunkóv) quanto indiretamente (personagens apresentados através da narrativa de Polzunkóv), são figuras que participam dos acontecimentos sem importância decisiva na narração. São personagens comuns, planos, definidos por uma característica básica, como, por exemplo, a avó de Polzunkóv, descrita explicitamente como “embarricada”, e implicitamente como avó preocupada com a situação. O personagem principal ainda engloba um tipo eufórico e disfórico em um mesmo tempo, ele revela características de um herói apolíneo em concordância (bondade/honra = forma perfeita), precedida por subornos e covardia: as discordâncias. O que propõe uma ruptura a favor do herói dionisíaco.
São personagens simples que, quando analisados como um todo, contribuem para a complexidade do conto.

Tempo: O tempo é fragmentado. É apresentado segundo relatos e memória do personagem principal, e apesar de ser cronológico, tem seu foco em captações e evocações ao passado.
 “- Cavalheiros, deixem-me falar! Contar-lhes-ei coisas de Fedosséi Nikoláiitch! Uma história, acreditem... simplesmente admirável!” , é o que personagem principal declara pouco após o início do conto, estabelecendo assim características de um romance naturalista - os flashbacks.  Tempo subjetivo e predominantemente ativo (acelerado), contextualiza ainda elipses, como em “Bom: os senhores já podem imaginar o que eu pensaria. Sigo a corrente de suas quadrinhas...”, e trocas de tempo complexas - o narrador volta no tempo a fim de explanar o seu relato, e retrocede ainda dentro deste mesmo tempo, de modo que: tempo real -> flashback -> flashback precedente -> flashback -> tempo real.
    
Apesar de o tempo estar fragmentado e vagamente estipulado em semanas e meses, a apresentação desses fatos (tempo real) é realizada em apenas um dia.
    

Espaço: O espaço é exterior, trata-se de um espaço físico. Tanto o palco como as casas descritas por Polzunkóv são espaços tópicos e fechados. O espaço não age sobre o personagem.

Enredo: O enredo, segundo Aristóteles, é dotado de uma ação completa – começo, meio e fim. Polzunkóv aborda esse enredo de forma clássica (apresentação, conflito, clímax e desfecho), e distinguindo-se da teoria de Todorov (equilíbrio/desequilíbrio/equilíbrio diferente do primeiro), o conto carrega um enredo orgânico, cujos capítulos são independentes.  Vejamos:

Apresentação – A apresentação provém de um observador neutro, o qual narra os movimentos de Polzunkóv seguido de suposições no que se refere às características deste. Ele apresenta o personagem, e incute voluntariamente uma descrição indireta do personagem no leitor.

Conflito –
O conflito se estabelece no momento em que Polzunkóv, em seu relato, conta-nos o processo de suborno no qual ele e Fedosséi Nikoláiitch participaram. Há, no ato, uma resistência da parte de Polzunkóv (alusão à covardia) e tentativas de persuasão de Nikoláiitch, e então é desencadeada uma perturbação na vida dos personagens.

Clímax –
O ápice do conto ocorre na revelação da falha do caráter de Fedosséi Nikoláiitch. É aí que Polzunkóv desacredita na situação e cria-se um conflito máximo.

Desfecho – O desfecho é o momento de revelações e de soluções de mistério. Ele se faz presente no final do conto, momento em que são evidenciados os pontos negativos do vilão e desprezadas as falhas anteriormente cometidas pelo herói de forma justa.  Posteriormente, é revelada a situação final do personagem principal, ou seja, um jovem exonerado que, em consequência do rancor deste ato injusto, torna-se um comediante secretamente melancólico.

      O trecho final: “Pois uma vez encontrei Fedosséi Nikoláiitch na rua, e tive intenções de dizer em sua própria cara que ele era um canalha!/ – E então?/ – Essas palavras não saíram da boca, cavalheiros!”, sugere a ideia de que Polzunkóv, apesar de seu rancor, ainda teme aquele que um dia chamou de pai. O desfecho enfatiza a ideia em que o conto se apóia: a auto-ironia.